28 de março de 2012

CAVACOS DE BUSÃO



Quando se é muito jovem, o que importa para um casal apaixonado é mostrar que está crescendo, que agora “rala”, paga contas e é maduro para o mundo.
A conversa é a mesma durante o trajeto. Perguntas e respostas ecoavam como uma metralhadora e o silêncio do nervosismo e do mal estar após cada resposta, gerava risinhos irônicos de alguns e olhares apaixonados de outros. Perguntas como: é o seu primeiro emprego? E o estágio, está gostando? Você gasta muito dinheiro? Gosta de tatuagem? Você saí muito? O que faz com o seu dinheiro? Era nítida a vontade de prolongar o papo e enxergar onde vai dar, mas o ponto de parada tratou de iludir os corações jovens e calorosos. O cavaco não tocou mais naquela linha.

Quando você já viveu um pouco mais, e é mais “maduro”, o que realmente importa é estar junto, ficar junto. A conversa é mais tranquila, não existe tensão nem ansiedade. O diálogo é guiado pela garota animada, que logo cedo contava que a casa do avô, num lugar chamado Felicidade, era mesmo uma felicidade. As coisas boas da vida, são ditas com detalhes, a rotina do avô, o café da manhã, com toda a família reunida, do cheiro do café. O jovem rapaz concordava com tudo, apreciava o discurso e dizia o quanto era legal ler sobre cinema e alertava a amiga que começasse a leitura o quanto antes. O dinheiro não estava em jogo, o que contava eram as atitudes, o ponto de vista e a disposição em viver harmoniosamente com o simples e o diferente. E assim, uma conversa despretensiosa, cheia de tranquilidade e excitação tomava conta daquela bumba. O ponto de parada, era só mesmo o ponto de partida para o mundo novo e desconhecido, para o mundo dos dois. O cavaco tocou em outras linhas.

E agora, eu me pergunto, e quando estamos quase nos 30? Falamos sobre quê? Sobre o quanto é caro e foda viver? Sobre o preço do aluguel? Sobre o cansaço pela rotina preenchida pelo trabalho e os afazeres domésticos? Sobre filhos? Sobre o casamento? Sobre o amor? Sobre a falta de maturidade numa idade em que “devemos ser maduros”? Sobre as responsabilidades? Sobre as perdas? Sobre o amor que nos une? Sobre a vontade de ficar junto? Sobre a vontade de morrer? Sobre os surtos de bipolaridade diante das situações? Sobre reclamações? Sobre o riso do seu marido, toda vez que ele te dá bom dia e te abraça mais 5 minutinhos antes de levantar? Sobre tudo e sobre nada? É tanta coisa, e eu não faço a menor ideia de qual seja a resposta para um cavaco tão bem tocado como esse. Acho que quando estamos quase lá, nos trinta, enfrentamos o que tiver de ser, com quem tiver de ser e topamos qualquer parada, pois a vida é isso. A vida não gosta de esperar. A vida é pra valer. A vida é pra levar.

12 de março de 2012

LIAME


Episódio vira novela.
Gota vira dilúvio.
Beijo vira troca de energia.
Transa vira encontro de almas.
Tchau vira adeus.
Te amo vira eterno.
Amor vira infinito.
Discussão vira palestra.
Declaração de amor vira ato shakespeariano.
Dança vira valsa.
Abraço vira tatuagem.
Piada vira tragédia.
Samba vira pranto.
Nada é o que parece e nem mesmo o que queremos dizer. Nosso sentimento, às vezes, só serve para nós mesmos e mais ninguém.