13 de julho de 2010

“Contato de primeiro grau com a essência do seu Eu”



Lurdez da Luz, vocalista do grupo Mamelo Sound System, há pouco tempo colocou nas ruas o seu primeiro trabalho solo. Uma obra genial que merece destaque e atenção de todos os ouvintes chegados à boa música brasileira. Grande admiradora que sou do Mamelo, não poderia deixar de conferir o trabalho de Lurdez. Não só aprovei como também comprovei o incontestável. É música boa que vale ser ouvida pelo mundo.

Tudo o que tenho escutado vem desse disco e há alguns meses as músicas não saem do repeat.

Sabe aquele disco que levanta o astral de qualquer um? Aquele disco que te anima, que te revolta, que te deixa triste, que faz você pensar? Não? Então tá na hora de saber. Comece com esse EP repleto de detalhes que faz você sentir a qualidade e o carinho dedicado a este trabalho.

Começando do começo. Foi assim...

A Luana - Lurdez da Luz - foi convidada pelo MC Ogi - dono do meu coração - a participar de uma música em seu disco Crônicas da Cidade Cinza. Como sou fanzoca da Lu-da-Luz, Ogi mexeu os pauzinhos para que eu pudesse estar presente no dia da gravação.

Nosso encontro, então, estava marcado... E foi marcante!

Começamos bem, com uma cervejinha gelada e um minduizim japanês. O papo foi pra lá de descontraído e em meio a toda fama e toda a Brahma, tive também o meu momento de tiete.
Logo dei início ao bombardeio: uma pergunta atrás da outra. Quis saber das letras, beats, participações e tudo que envolvia a produção do disco. Desejei escrever sobre este trabalho no blog. Decidimos juntas: uma entrevista não seria a melhor opção.

A homenagem da criatura foi legitimada pela criadora.

O disco da Lurdez é cheio de barulhinhos bons, letras que rasgam a alma, instrumentos que tocam o coração, batidas que balançam nosso esqueleto e uma voz muito bem colocada em cada linha desse álbum, ora doce, suave e leve, ora agressivo, enérgico, forte.

Todas as mulheres devem ouvir essa obra. É amor. É sobre amor, é feito com amor, é fala do amor, com amor, é amor de mãe para filho, é amor pelo homem, é amor por ser mulher, é amor por fazer o que se ama, é amor que compreende, é amor bruto, é amor simples, é amor pela vida, é amor por ser livre, é amor pela cidade, amor pela vida. É amor, de amor!

Um verdadeiro teatro musical onde nos vemos muitas vezes como protagonistas no primeiro ato.

Somos tomados POR UM PUNHADO DE PALAVRAS acompanhado por uma salva de palmas em cima de um beat pesado. Lurdez se apresenta e logo anuncia que aquele ali é o seu produto interno e bruto. De fato o disco é autobiográfico, mas não necessariamente tudo que é cantado foi realmente vivido por ela. Expõe sua personalidade, sua visão do mundo e sua forma de encarar a vida. É sincera com as emoções, interpreta sinestesicamente todos os sussurros que damos ao longo da vida - nossa caminhada é feita de escolhas e na certa você já deve ter emitido algum AH UH por aí. São identificações que nos trazem a segurança que na própria música é citada por Lurdez, você é dono de suas ações, é responsável por suas escolhas. Devemos ter a satisfação plena em poder fazer a coisa certa ou aquilo que acreditamos. Somos donos da nossa história.

As letras e os sons podem ser livremente interpretados por cada um e Lurdez deixa claro que gosta de escrever nessa linha, em que cada um entende o que quiser e se identifica com o que curte. Não gosta de impor nada, sua rima é falada para quem quiser ouvir e entende quem quer. Isso realmente foi uma das coisas que mais me chamou a atenção no disco. ANDEI muito atrás de música boa, música que fizesse sentido e sem sucesso desisti de procurar. Eis que surge esse presente com consistência de ideias e um novo jeito de interação entre homens e mulheres. O mundo muda e, logo, nós mudamos também, dançamos conforme a música e inventamos um novo mundo diariamente.

Falamos muito sobre várias coisas, e entre goles e tragos, afirmei que não dava para classificar o disco com um único estilo: IM-POS-SÍ-VEL! Sua música tem na bagagem várias influências, é música brasileira, RAP alternativo que passeia por várias praias. Esse misto de influxo dá origem a um som ímpar, é o borogodó do ZIRIGUIDUM que faltava. Música de pista, música que balança: “música pra ouvir com amigas, música pra ouvir sozinha, música pra ouvir mil watts e pra ouvir baixinha...”

Lurdez talvez não tenha muita noção do quanto é importante para a música brasileira, afinal de contas, já sofreu preconceito por fazer RAP, por ser mulher e por ser branca. Continua firme nas suas convicções pelo reconhecimento de sua musicalidade. Sabe que a estrada é longa, mas não pensa em parar nunca! Eu agradeço.

Começou a escurecer e Lurdez precisava gravar sua parte no som do Ogi, cantarolou alguns trechos e disse estar pronta para gravar. Rodrigo saiu do estúdio e deixou que eu gravasse a Luana, isso mesmo, tive a honra de gravar a voz da Lurdez, operei o computador e gravei a ilustre participação dela para o disco. Sabe aquela coisa, quem sabe faz ao vivo? Então, a bichinha quebrou tudo, cantou duas vozes maravilhosas, usou uma melodia afinada e representou com sua rima afiada. Fluiu como uma CORRENTE DE ÁGUA DOCE saiu melhor do que ela mesma esperava e além da satisfação, foi muito divertido. Nós três estávamos felizes, felizes de verdade, foi emocionante, um encontro de almas a fim de falar sobre qualquer coisa e com a música incomum. Sou suspeita para falar do Ogi e agora mais do que nunca sou suspeita para falar da Lurdez, já que tem muito bem querer no caminho. Horas atrás tinha o MEU MUNDO NUMA QUADRA, um mundo tímido, só meu, guardado para meus ouvidos, e de repente compartilhei a emoção e abri o caminho para fazer da quadra o mundo que eu quisesse pintar.

Expressão de figuras de linguagem, contrabaixo, hipérboles, bateria, onomatopéias, voz e DJ, panela sonora pronta pra explodir e ganhar o universo. Músicas que hoje fazem parte da fase que eu vivo e que com certeza ficarão para história e deixará SAUDADE, assim como toda boa música deixa um dia.
Como não poderia deixar de ser, aproveito essa declaração para registrar e enaltecer que a minha favorita é a faixa sete. “Faixa sete abalou” Sim, a faixa sete sempre abala! Classifico como uma das melhores do disco, intensa, dá uma agonia, um cansaço, um profundo incômodo semelhante ao peso, um sentimento não correspondido, a perda e a luta pelo recomeço, perfeita fusão de tudo que escrevi até agora. As participações do disco dispensam comentários, produção muito bem pensada do início ao fim, respeito absoluto por essa guerreira que faz a diferença sem medo de ser julgada, sem medo de ser feliz, acredito que qualquer coisa feita com o coração merece atenção.

Esse disco foi feito para gente grande, gente que não discrimina misturas e tendências, gente que valoriza a música brasileira, seja qual for o gênero. Entenda como quiser, mas aqui, EU SOU O CARA e tenho autonomia e permissão para falar sobre aquilo que eu gosto e me faz bem. Sem estereótipos.

Meu encontro com a Luana ficou marcado para sempre, esse disco ainda vai dar muito que falar e quando você tiver a oportunidade de escutar esse soco na boca do estômago, vai entender o quanto a vida vale à pena, mesmo sendo ruim é boa, o FIM DA EGOTRIP de cada um é único e infinito, é a rebeldia que motiva nossa andança por um mundo cada vez mais louco e indigesto, dentro da insensatez de todo ritmo que se torna íntimo, poesia, extensão de mim que já não é minha. Aprecie sem moderação.

Baixe o EP: http://www.4shared.com/file/0xDAwmyb/Lurdez_da_Luz_-_EP_-_2010.html

Mais informações:
http://www.myspace.com/lurdezdaluz

3 comentários:

  1. Eu num choro facil, chorei aqui.
    Dia que entrou na noite cheio de felicidade foi esse ai.
    Texto documental do realismo fantastico.
    E a dedicatória é descrição que na real nem faz jus ao que tava claro na minha cara. Já amo vc´s 2. Sai leve mesmo cheia de trigo e levedo.

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  3. postagem linda...
    descrição perfeita sobre o que também sinto em relação ao disco.


    tudo lindo...
    parabéns as duas :]

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